domingo, 13 de novembro de 2011

Educação: Questões de Metodologia 2

A linguagem da Educação

Em qualquer tipo de investigação, uma das questões fundamentais tem a ver com a linguagem.
“A falar é que a gente se entende”, diz o povo. Mas isto só acontece quando é claro o sentido das palavras.
Restringindo-nos ao nosso campo, podemos perguntar: qual é o sentido da palavra educação? Mas não precipitemos a resposta. Ela pode beneficiar de uma reflexão prévia sobre as coordenadas do tempo e do espaço em que nos toca viver.

Continua entre nós a debater-se o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, perspectivado em 1911, estabelecido em 1990, entrado em execução a partir de 2009.
O debate, na sequência das duas principais tradições da escrita, de base fonética ou de base etimológica, e porque o Acordo privilegia a primeira delas, continua a oscilar entre duas posições opostas:
- de aceitação, a partir do orgulho nacional pela língua de um pequeno País que se tornou uma das mais faladas do Mundo à escala intercontinental e se transformou, no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em veículo de uma cultura comum de tradições, sentimentos, afectos e valores, cuja unidade, tanto mais ameaçada quanto maiores são as diferenças entre as diversas comunidades dos falantes, importa preservar a todo o custo, no sentido da proclamação de Fernando Pessoa “a minha Pátria é a Língua Portuguesa”;
- de rejeição, atendendo ao facto de que o português deriva do latim, a língua do Império Romano aquém do Reno e Danúbio e que essencialmente importa evitar que a progressiva cedência à simplificação fonética dos vocábulos acabe por apagar e destruir os traços da fisionomia etimológica ou, como diríamos hoje, do código genético, do genoma, do ADN herdados da língua-mãe.

Pessoalmente considero que a boa solução deverá encontrar o equilíbrio entre as duas vertentes: por um lado, reconhecer que o ritmo de aceleração da mudança, no mundo global em que nos toca viver, continuará a privilegiar a vantagem de atender à base fonética como meio de manter a unidade da língua e, por outro lado, estar bem consciente de que a maior exigência da própria comunicação entre os falantes obriga a preservar, por todos os meios, o sentido etimológico das palavras, o seu étimo que, em grego, significa “o nome verdadeiro das coisa segundo a sua origem”.
Nesta ordem de ideias, impõe-se adoptar na cultura nacional duas medidas: a primeira, a longo prazo, visará arrepiar caminho do inacreditável abandono a que vêm sendo votados, nas nossas Universidades, os Cursos de Línguas, Literaturas e Culturas Clássicas; a segunda, a curto prazo, consistirá em promover, com toda a urgência, a reforma dos dicionários escolares no sentido de incluírem, obrigatoriamente e na medida correspondente a cada grau de ensino, referência á etimologia de todas e cada uma das palavras. Existe o bom exemplo do dicionário Houaiss.

Mas neste ponto e nesta fase de construção da cidadania europeia, o estudo na área da educação, como aliás em qualquer outra área, pode e deve obrigar-nos a ir mais longe.
O latim brota do tronco comum de todas as línguas faladas desde Portugal ao Bangladesh (com excepção do basco, húngaro e finlando-estoniano) que é o chamado indo-europeu.
O reencontro das raízes desta remota língua-mãe resulta de um processo de “serendipidade”, palavra registada no dicionário Houaiss como “aptidão, faculdade ou dom de atrair o acontecimento de coisas felizes ou úteis, ou descobri-las por acaso”, e é tradução da palavra inglesa serendipity , cunhada em 1754 pelo escritor inglês H. Walpole (1717-1797), “a partir do conto de fadas Os três Príncipes de Serendip (do árabe Sarandib, antigo nome do Sri Lanka) cujos heróis faziam sempre descobertas, acidentalmente ou por sagacidade, de coisas que não procuravam”. Edgar Morin, depois de mencionar a arte de modernos investigadores que, a partir de simples indícios, descobriram novos horizontes do Micro e do Macrocosmo, da Biologia e da Genética, da Paleontologia e da Pré-história, define a serendipidade como “a arte de transformar detalhes aparentemente insignificantes em indícios permitindo reconstituir toda uma história”. Na área das línguas, apesar das dúvidas que permanecem sobre o espaço e o tempo do território original do proto-indo-europeu e das dificuldades iniciais, a investigação vem sendo feita por autores como A. Zamboni, Grandsaignes d’ Hauterive e Heckler, Chantraine, G. Devoto, A. G. da Cunha, Alain Rey, Corominas y Pascual, Ernout-Meillet, etc.
Já no que diz respeito à Educação, é conhecido o esforço do Álvaro Gomes que a partir da constatação de que “também as palavras têm o seu curriculum vitae”, estudando “as marcas linguísticas, os rastos e os restos dessas cristalografias semânticas, como se duma espécie de isótopo 16 ou de carbono 14 linguístico se tratasse”, remonta a “mais de sessenta” raízes de interesse para a educação e procede a amplas análises no âmbito da metadidática.
A importância crescente atribuída à etimologia por modernos dicionários (ver Houaiss) incita-nos a remontar aos étimos que, a este nível, se revelam fontes de galáxias de nomes, chegados até nós, através de variadíssimos percursos.
No blogue e com as cautelas devidas, proponho-me tirar partido deste método. E, pela experiência adquirida, estou certo de que vamos ficar convencidos do enriquecimento que ele nos pode proporcionar.

Sem comentários:

Enviar um comentário